ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 17.11.1994.

 


Aos dezessete dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas e trinta e dois minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio ao Professor e Maestro Aloísius Staub, nos termos do Requerimento nº 05/94 (Processo nº 714/94), de autoria do Vereador Antonio Hohlfeldt. Compuseram a MESA: Vereador João Dib, presidindo os trabalhos, Irmão Norberto Rauch, Reitor da Pontifícia Universidade Católica, Senhora Jucélia Barreto, representando a Secretaria Municipal de Educação, Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa, Professor e Maestro Aloísius Staub, Homenageado, Senhora Edla Fernandes Rodrigues, esposa do Homenageado, Vereador Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, em prosseguimento, concedeu a palavra ao Vereador Antonio Hohlfeldt que, em nome da Casa, falou sobre a atuação do Homenageado como Professor e Maestro, ressaltando o carinho e a dedicação que Sua Senhoria sempre dispensou ao seu trabalho e lembrando, em especial, sua participação na fundação e no crescimento do Coral 25 de Julho. A seguir, integrantes do Coral 25 de Julho homenagearam o Maestro Aloísius Staub, cantando trechos de músicas de Lupicínio Rodrigues. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Antonio Hohlfeldt para proceder à entrega de alfinete de lapela com o símbolo da Câmara Municipal de Porto Alegre e do Diploma referente ao Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Professor e Maestro Aloísius Staub. Ainda, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio hoje recebido. Às quinze horas e vinte e dois minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às dezessete horas, de registro do transcurso do Dia Nacional da Consciência Negra, e convocando-os para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Dib, nos termos regimentais, e secretariados pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia do documento original.)

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Dib): Estão abertos os trabalhos desta Sessão Solene.

Convido para comporem a Mesa o nosso homenageado, Maestro Aloísius Staub; o nosso querido Reitor da PUC, Irmão Norberto Rauch; a Sra. Edla Fernandes Rodrigues, esposa do nosso homenageado; o nosso querido amigo Firmino Cardoso, representante da ARI; a Sra. Jucélia Barreto, representando a Secretaria Municipal de Educação.

Composta a Mesa, solicito que todos, em pé, ouçam o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

Estamos reunidos aqui para homenagear o nosso querido Maestro Aloísius Sataub.

Em nome da Câmara Municipal, por todos os seus Partidos, que aprovaram por unanimidade a entrega desse título fala o Ver. Antonio Hohlfeldt, autor da proposição.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: (Saúda os componentes da Mesa.) Pelo menos duas gratas surpresas na tarde de hoje, independente da homenagem. Sinto-me honrado em ter como Presidente desta Sessão o Ver. João Dib, ex-Prefeito desta Cidade, na condição de Vereador mais experimentado da Casa, porque o Presidente Luiz Braz tinha, anteriormente, um outro compromisso marcado; e a presença do Irmão Norberto, que não apenas na condição de Reitor da PUC, mas certamente pela antiga relação com a Ordem Marista, se acha aqui presente e, sobretudo, pelos laços de família que unem o nosso hoje Reitor da PUC e o nosso homenageado.

Feito este registro, vejo aqui pessoas, algumas que conheço de tantos anos, como a “Frau” Eillen, do Centro Cultural 25 de Julho, professores com quem eu tenho cruzado ao longo dos anos em diferentes colégios, mas vejo, sobretudo, a pessoa que talvez devesse estar aqui em meu lugar neste momento; e se não está, é porque não é Vereador, que é o genro do Prof. Aloísius, nosso funcionário, nosso companheiro da Secretaria de Obras e Viação; e a filha do Prof. Aloísius.

Digo isso porque foi deles a iniciativa da proposição trazida a mim que, obviamente, abracei com imenso carinho e imensa alegria, porque, nesta Sessão, mais do que o formalismo da homenagem a que somos obrigados em certos momentos, queria poder relembrar alguns momentos do meu convívio com o Prof. Aloísius que é, em última análise, o motivo desta homenagem. Esses momentos que tive, individual e pessoalmente, são momentos que certamente cada um dos Senhores tiveram ou estão tendo em diferentes oportunidades, ao longo daquelas dezenas de corais que Aloísius dirigiu ao longo da sua vida. O que quero falar é disto: de sala de aula e de coro. De sala de aula, porque meu primeiro encontro com Aloísius se deu no Colégio São João - muito rapidamente - e, depois e sobretudo, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. De inglês, com o Aloísius, acho que não aprendi nada - era péssimo em inglês. Fui aprender inglês muitos anos depois, quando fui morar no Canadá. Mas de música, se não aprendi, aí o problema é basicamente meu, porque o Aloísius, nessa área, sabe tudo. De professor de inglês ele se disfarça no dia-a-dia, como já se disfarçou de professor de português, de literatura e de outras coisas. Mas o Prof. Aloísius é realmente um maestro - e quem conviveu com ele nos corais sabe disso. O Aloísius corre atrás de papel, corre atrás de mimeógrafo, corre atrás de “xerox”, arranja seu tonador para garantir o tom exato para podermos iniciar a composição ou a interpretação, com um carinho e com uma dedicação que raramente vemos em maestros nos nossos corais - e vejam que temos uma experiência longa disso, começamos há muitos anos. Eu cantei no “25 de Julho” durante 15 anos; no “Julinho”, durante todos os anos que o coral durou dirigido pelo Aloísius; depois, outras experiências que cruzamos aqui e ali, com a diferença de que fui para outro lado: fui fazer literatura, enquanto que o Prof. Aloísius continuou durante toda a sua vida cuidando de música.

Lembro que no “Julinho”, quando o Aloísius propôs um coral, imaginávamos que ele estava ficando maluco, porque toda aquela liberdade do “Julinho”, às vezes, também virava um certo anarquismo, muito saudável, mas complicado para conseguir juntar jovens para fazerem uma coisa que, bem ou mal, exige disciplina: o coral. Era numa época em que o “Julinho” ainda tinha separação de sexos: as mulheres de manhã e os homens á tarde. Depois, à noite, podia misturar, não havia problema. Mas à noite, obviamente, não se espera conseguir adepto de coral. O pessoal não tinha tempo de maneira nenhuma. Então, na verdade, o coral começou a ser montado exatamente com os alunos da manhã - leia-se meninas - e os alunos da tarde - leia-se meninos. Evidente que todos nós estávamos interessadíssimos nisso, talvez menos pelo coro e mais pela chance de encontro. Mas o Aloísius montou um coral que durante três ou quatro anos teve um papel importante no Colégio Júlio de Castilhos. Ao mesmo tempo - isso em 1965 - o Professor Aloísius Staub iniciava essa trajetória que seria, realmente, a trajetória mais importante do seu trabalho, no Centro Cultural 25 de Julho. Fundava-se o coral misto do Centro Cultural 25 de Julho. Jovens de diferentes lugares que tinham como identidade a herança da cultura alemã, passaram a ter um espaço que era, sobretudo, nos sábados pela tarde, para ensaiar, cantar, e a coisa pegou, cresceu. Eram mais de 50 jovens. De repente, começaram as viagens, as excursões, e o grande projeto que o Professor Aloísius respondeu, em certo momento, que era a gravação do primeiro disco, em São Paulo. Era para nós, e acho que para o Professor Aloísius também, uma utopia, um sonho fantástico. Um grupo com as suas próprias forças, jovens, todos - e não por um acaso o disco se chamou de “Jungen” - “Jovens” - que muitas vezes dependiam de seus pais para sobreviver no seu dia-a-dia, mas jovens que mais do que participar de festivais, onde se tinha sempre um bom papel, queriam realmente fazer uma excursão e conhecer outros lugares. Certamente, assim como eu, a maioria daqueles jovens, naquele ano e nos anos subseqüentes, saíamos pela primeira vez do Estado do Rio Grande do Sul, liderados pelo Professor Staub. Nós fomos pela primeira vez a - países vizinhos: Argentina, Uruguai, Paraguai. Acho que a maioria de nós, provavelmente pela primeira vez, borrado de medo, entrou num avião e foi para a Europa sob o comando do Professor Staub. E lá passamos, alguns anos depois, 45 dias dentro da Alemanha, cantando de cidade em cidade e vivendo nas mesmas situações, porque o Professor Staub não pediu arrego de: “para mim hotel e para a gurizada as casas.” Ele conviveu conosco, às vezes até repartindo uma cama de casal com outro coralista. Isso era muito comum em pequenas cidades alemãs. As famílias sentiam-se tão honradas em nos receberem que saía o casal da própria cama e a gente era obrigado a aceitar a cama de casal. Dois marmanjos durante dois, três dias - porque seria muito ruim se nós não aceitássemos essa homenagem que essas pequenas cidades nos faziam. Juntando essas lembranças do interior de Santa Catarina, onde tantas e tantas vezes nós tínhamos que tomar banho daquela maneira que se toma banho ainda na colônia: com um grande balde furado sobre a cabeça e que a gente puxa uma cortina e a água desce à vontade, mas tem que ser rápido porque, senão, ou fica com sabão ou continua com o pó da estrada. Juntando lembranças de algumas viagens em que motoristas se perdiam nas estradas de terra da Argentina ou do Uruguai, e em vez de nós cantarmos às oito da noite, nós chegávamos a uma da madrugada. E numa dessas cidades estavam lá algumas centenas de pessoas nos esperando e não adiantou dizer que estávamos podres de cansados, à meia-noite nós iniciamos um “show” com a direção do Prof. Staub. Acho que essas são lembranças que o pessoal do “25 de Julho” tem, com toda a certeza, mas que todos aqueles que já cantaram com o Prof. Staub, nos diferentes corais que ele dirigiu, terão com variantes. Provavelmente, o “25 de Julho” foi a experiência mais maluca do Prof. Staub, porque não adiantava ele dizer que não; a gente decidia que sim e ele tinha que ir junto. Mas, de toda maneira, acho que foi uma experiência extremamente importante, porque mais de uma década o Prof. Staub conduziu um grupo de jovens que, tenho certeza, aprenderam a ter responsabilidade, organização, aprenderam a acreditar em si próprios, a sentirem-se úteis, a saberem das suas responsabilidades em relação aos outros. Não por um acaso, hoje, essa geração é exatamente a geração que comanda o Centro 25 de Julho, como a “Tante” Eli sabe muito bem, o nosso Presidente Olavo Fröhlich, que é ex-cantor do 25 de Julho, ainda do tempo do Prof. Aloísius; boa parte do Conselho e dos rapazes, dos quais alguns até voltaram, hoje, com saudades, para o Coral Misto 25 de Julho.

Mas o Prof. Staub continuou esse sonho em outros grupos. Eu confesso a vocês que durante um tempo, meio que me perdi do nosso homenageado; depois, nos encontramos, em certo momento, e me surpreendeu que o Prof. Staub, que, no fim, tem todo o direito à sua aposentadoria, ao seu descanso, à sua tranqüilidade, continuasse assumindo a direção de diferentes corais, como de fato há ainda agora três ou quatro corais que o Prof. Staub dirige. Eu acho que isso, realmente, merecia uma homenagem desta Casa, porque isso significa, sem dúvida nenhuma, e a presença de vocês atesta, milhares de pessoas desta Cidade envolvidas na história de uma pessoa, que é o nosso homenageado, graças ao seu trabalho profissional, que não se reduz ao trabalho que se paga a ele no final do mês, mas que cresce e amplifica na crença e na tarefa que não é medida por esse salário, mas que é medida por uma coisa muito mais importante, por nossa crença em alguma coisa muito maior; as nossas vidas ou, talvez, coisas que a gente nem consegue avaliar, esses jovens, outras pessoas de outros grupos, de idades variadas, que constituíram ao longo de anos esses corais que o Professor Staub dirigiu e tem dirigido.

Por isso esta Casa, com humildade, mas com objetividade, criou prêmios para homenagear aquelas pessoas que se destacam num trabalho cultural: Prêmio Érico Veríssimo, na Literatura; Prêmio Qorpo Santo, no Teatro; Prêmio Lupicínio Rodrigues, na Música; e estamos, agora, com um Projeto tramitando, instituindo Prêmio Iberê Camargo, para as Artes Plásticas; além do Prêmio Maurício Sirotsky, para o jornalismo. É a maneira que esta Casa tem de dizer, em nome da população: obrigado àquelas pessoas, nascidas ou não em Porto Alegre, que aqui desenvolveram o seu trabalho profissional.

No caso específico do Professor Staub, eu tenho absoluta certeza, são literalmente milhares de pessoas que, ao longo de sua vida, viram-no como um maestro. Se eu falo em maestro, não estou diminuindo o papel de professor, mas certamente o papel de maestro foi mais marcante na vida do Professor Staub, e se não na dele, certamente na nossa, que com ele convivemos. Professor Staub, eu espero que o Senhor consiga, durante muito tempo, não por necessidade de complementação de renda, mas pelo prazer e pala sua contribuição, continuar conduzindo os nossos corais. Que nós possamos encontrá-lo nas igrejas, nos palcos, nos festivais, dirigindo jovens e velhos; mas sempre jovens de espírito, exatamente por todo o milagre que a música faz conosco, que, realmente, a gente sai de dentro de si próprio. Sinto-me honrado, porque se estou nesta Casa neste momento, como Vereador, no terceiro mandato - completo doze anos, portanto, de Câmara de Vereadores -, certamente o Senhor tem um pouquinho de responsabilidade nisso, para o bem; para o mal, eu terei que assumir sozinho a responsabilidade.

Para encerrar, eu gostaria de dizer que o Professor Staub, como professor, teve um outro papel importante. Em algumas de suas aulas de Língua Portuguesa ele fazia uma coisa que se chamava “grêmio literário”, onde abria um espaço para que seus alunos usassem e explorassem a sua criatividade, no meu caso, sobretudo a literatura. Sequer imaginava que algum dia pudesse envolver-me diretamente com a política e, principalmente, a política partidária. Mas me lembro de um colega, Elton Manganeli, um dos bons artistas plásticos deste Estado; lembro-me, por exemplo, de outros colegas que hoje são advogados importantes, que tiveram nesses espaços a possibilidade de se manifestarem, de treinarem a oratória que iriam usar futuramente nas suas profissões. No meu caso, eu aproveitei para escrever bastante, e recebi sempre do Professor Staub esse incentivo extremamente importante. Portanto, dizia que o maestro era o principal homenageado; mas quero, ao mesmo tempo, concluir lembrando também o professor e dizer: Professor, sinta-se, efetivamente, também parte desta Casa pelo muito que participou comigo, embora eu tenha, talvez, uma pequena participação aqui na Câmara Municipal de Porto Alegre.

A Câmara e todas as Bancadas me definiram como orador nesta homenagem. Tenho a honra de ter hoje, na Presidência, o Ver. João Dib, que é também uma pessoa que tem uma história bonita nesta Cidade, ele que também veio de fora de Porto Alegre e aqui ocupa um espaço. Sinta-se, portanto Professor, homenageado, e espero que esta pequena lembrança que a Casa lhe deixa sirva como provocação para continuar sua tarefa. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Manifestação dos integrantes do Coral 25 de Julho cantando a música “Felicidade”.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Meu caro Maestro Staub, a vida é feita de momentos. Alguns muito bom, outros não tão bons. O Senhor está vivendo um momento muito bom, esse tipo de momento deve ser guardado no fundo do nosso coração para que nos outros momentos possamos enfrentá-los com dignidade, com certeza e esperança de que tudo será resolvido.

Hoje, aqui estão seus amigos, seus colegas, seus alunos, os amigos do Coral do SESC, do Coral da Igreja São Pedro, do Coral da Igreja Coração de Jesus, da Sociedade 25 de Julho, do Círculo Operário Porto-alegrense. Estão aqui a Irene Fernandes Rodrigues, sua cunhada; o Wilson Rodrigues, seu cunhado; a Tânia Rodrigues Ferrer, sua filha; seu genro Paulo Roberto Ferrer; a Vera Lúcia Rodrigues Staub, sua filha querida, sem dúvida, como todos os outros e o Francisco Carlos Barbosa, seu neto. O Senhor deve ser duplamente feliz por professor e por maestro, porque maestro é música, música é a fala dos anjos, e através dessas suas músicas os anjos devem ter falado muito sobre esta Cidade, deste Estado, deste País, e até fora. Apenas uma observação em relação ao Ver. Antonio Hohlfeldt que disse que o senhor é o responsável pelas coisas boas que ele fez nesta Câmara. Então o senhor é responsável por tudo que ele fez. Mesmo quando meu adversário político ele sempre atuou com dignidade, com responsabilidade e competência, agora com sensibilidade propôs esta homenagem ao senhor, mais uma vez ele acertou. Portanto, o Senhor vive um momento extremamente feliz, o senhor é um exemplo. Queremos que este momento se prolongue por muito mais e os seus amigos fazem isto. Convido, neste momento, o Ver. Antonio Hohlfeldt para que ele lhe entregue o Prêmio Lupicínio Rodrigues e também o Brasão de Porto Alegre que a Câmara escolheu para lembrar os seus 221 anos que foram completados no dia 6 de setembro.

 

(É feita a entrega do Prêmio e do símbolo.) (Palmas.)

 

Agora que o nosso Professor e Maestro Aloísios Staub está com Porto Alegre mais perto do seu coração, tenho a satisfação de conceder-lhe a palavra para que ele se dirija aos amigos, aos familiares e a própria Cidade de Porto Alegre.

 

O SR. ALOÍSIUS STAUB: (Saúda os componentes da Mesa.) Subi nesta tribuna encabulado, tímido, coisa que minha Senhora não acredita. É que estou acostumado a fazer festa para os outros. Sinto-me muito feliz! Isto é para mim uma verdadeira apoteose de afeto e gentilezas, “quid retribuam domine”, que retribuirei Senhor! É um gesto dos nobres Vereadores da nossa Cidade. Minha voz é fraca para dizer que a população aplaude às suas iniciativas e todos sabem do interesse e clarividência desta Casa. Saúdo aos Srs. Vereadores, especialmente o Sr. Presidente Luiz Braz, que conduz os destinos desta Casa do povo a contento de todos. Agradeço muito e saúdo o Sr. Ver. João Dib, de tantos méritos e que hoje vejo, com satisfação, que dirige à cerimônia em minha homenagem.

Sempre acompanhei a vida do proponente desta homenagem, o Sr. Antonio Hohlfeldt, autor de vários livros que o lançam como um intelectual de proa no painel nacional. Sei de seus progressos no Colégio São João, quando começou, já na 5ª Série, a escrever para o “Correio do Povo”, onde foi jornalista e crítico de artes. Estando encarregado das atividades extraclasse no “Julinho”, lá estava o jovem Vereador, como cantor, aos sábados à tarde. Em 1964, há trinta anos atrás, começamos juntos no Coral Misto 25 de Julho, que hoje é uma grande expressão artística do Rio Grande. Lembro-me ainda de um livro, do qual ele gostava muito: “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupèry.

Às autoridades, aos amigos, que me honram com sua presença, apresento a minha esposa Edla, minha filha Vera, minhas enteadas Jane e Tânia, e procedendo assim, lembro-me do título sugestivo de uma gravação americana: “Nice on the inside” -bonito no seu interior- e posso dizer, sem exagerar, que elas também são “nice on the outside”, bonitas e belas no exterior. Todas comprometidas com o Magistério, abrem essa riqueza interna de ternura para os alunos. Um deles, dirigindo-se à professora Edla afirmou: “Edla, tu me fizeste feliz. Até os bolos de festa da Edla têm essa característica: “nice in the inside”, conteúdo bom.

Permitam-me a algumas recordações para o presente. Nasci em Santa Cruz do Sul, terra de fé e trabalho, de pais que eram zelosos em cumprir os deveres religiosos e civis. O pai, líder comunitário era inteligente. Sem ter estudado Psicologia, mandou-me estudar em Porto Alegre, porque achou que eu não tinha jeito nenhum de ocupar-me em plantar fumo, e outras atividades agrícolas. Foi com maristas, santos e práticos, que vim ao Champagnat, onde ocupei quase todos os postos como aluno e professor. Foi em 1930. O Irmão marista chamava-se Irmão Stanislau, apelidado “o padre das cabras”, porque se empenhava, naquele tempo, que todo o ferroviário, pai de família tivesse uma cabra bem fácil de tratar.

Vim de vapor de Mariante em diante. Cada vez que via um aglomerado de luzes, eu perguntava se isso era Porto Alegre. Meus conhecimentos da língua nacional eram reduzidos. Por exemplo, eu sabia o que era cabo - como cabo de enxada -, mas o professor de Geografia dizia que cabo era a mesma coisa que promontório; depois, vinha ainda o cabo do Exército para complicar o vocabulário.

Pude fazer o vestibular numa das primeiras turmas da PUC e optei pelo magistério e me acho muito feliz. Sempre trabalhei com muita alegria e otimismo. Mestres maristas de primeira qualidade: o Irmão Vendelino e o Irmão Aloísio - meu tocaio -, meu primeiro mestre de música, foram meus modelos para toda a vida.

Lembro-me dos dizeres: “Dai-me um homem que trabalha contente; será mais eficiente, perseverante e mais perfeito. O professor pode iluminar o espírito do jovem. A escola é o berço do mundo futuro - parece que o professor carrega o futuro dos seus filhos, dos seus alunos. Ser professor é praticar o exercício da imortalidade. A presença do professor deve ter cheiro de felicidade, segurança e verdade. O professor deve abrir as portas da ternura.”

Todos conhecem o canto infantil: “A canoa virou, por deixá-la virar, foi por causa do Fulano que não soube remar”. Quantas canoas viraram, porque o mestre não soube remar. Há, infelizmente, professores que têm um interior bem seco - sem querer fazer diagnósticos das causas - mais seco do que as cacimbas do Nordeste.

Agora, farei a chamada de alguns colégios e entidades onde derramei suores com muita alegria. Champagnat, saudades das missas gregorianas, cantadas todos os domingos; missas soleníssimas, com duzentos cantores acompanhados por um majestoso órgão de tubos. Meia hora de ensaio de canto todos os dias; aos domingos, um intensivo.

Júlio de Castilhos, corpo docente competentíssimo. Movimento estudantil de proa. Lecionava inglês, música e alemão. Minha linguagem era musical. Tinhas um coral extraclasse onde o amigo Ver. Antonio Hohlfeldt garantia o baixo. Os professores também cantavam nas segundas-feiras, das 18 às 19 horas. O saudoso professor Thies, Diretor do Colégio Farroupilha, era o mais entusiasta. Era chamado o coro dos leões.

Vinte e Cinco de Julho: excursões todos os anos. Duração um mês. No décimo ano fomos para a Alemanha e ficamos quase dois meses. Foi um ambiente muito bom. Participamos de todos os festivais internacionais e muitas vezes fomos finalistas. Cantamos numa festa histórica, no casamento de Yeda Vargas Atanásio, e muitos outros eventos importantes.

Colégio Batista: que nobreza, que respeito mútuo. Um desânimo de um aluno movimentava todos os bombeiros da orientação educacional e pedagógica. Quando desaparecia um cartaz, a diretora explicava: então o Staub passou por aí, porque não tolerávamos erros ortográficos ou fraseado sem lógica. Mas isso consta na minha ficha policial.

Dom Luís Guanella: que paraíso! É o Guanella do meu coração, onde trabalhei 15 anos como professor e seis anos, diretor. Mas mérito realmente tem a minha esposa Edla que trabalha há 26 anos neste colégio. Fiz lá uma experiência, digna de imitação. Não havia aula sem canto. Com os pequenos, à tarde, uns subiam as escadarias e os outros ficavam cantando. Meus amigos, o canto traz dividendos extraordinários. Por isso, em todos os colégios onde trabalhei formei um coral. Deixei lá um CTG, “Querência da Amizade,” que é orgulho do bairro e alta expressão do tradicionalismo gaúcho. Eu vejo o Patrão desse CTG no nosso meio, Sr. Olívio Grieger, ali, sentado. Muito obrigado por sua presença.

Academia de Polícia Militar. O civismo e o amor à pátria povoaram sempre meu interior. Esta academia, tenho-a como uma das melhores do Brasil. O Exército não fazia festa cívica sem o entrosamento coralístico da Brigada Militar. Por generosidade do General Henrique Bergamamm ganhei o glorioso título de Benemérito do Exército Brasileiro e da Brigada Militar, uma condecoração que muito me honra.

O Coral da Igreja São Pedro. Seu lema: levar alegria no Movimento da Evangelização. Até cantamos num casamento no circo. A noiva me disse que nunca gostou tanto de uma música como da nossa Ave-Maria. O padre da Igreja das Dores levanta os braços e convida o povo a agradecer a Deus que lhes deu a graça de ouvir este coral durante a missa. Um outro padre, que nós chamamos de “baixinho”, abandona o altar e fica ao meu lado pedindo que bisássemos um canto. Era o canto “Todos Unidos” de Haendel. Fazemos umas 40 apresentações por ano em igrejas diferentes. Em novembro, temos ainda quatro compromissos: dois casamentos e duas missas. A união de componentes, a religiosidade e a alegria é a trilogia que sustenta durante 62 anos esse coral de atividades ininterruptas. O dinamismo do Sr. José Carlos Fernandes é a mola impulsionadora desse sucesso. Quero louvar, também, os 43 componentes que nunca faltam no ensaio e na apresentação, muitos deles estão aqui. Muito obrigado.

Coral do SESC. É um dos corais do meu coração. É da 3ª idade do Grupo UPA - Unidos pela Amizade - Programa: lazer e arte. Eu, como instrutor efetivado pelo grande e dinâmico Presidente Renato Seguézio, aos 76 anos canta. No calor dos acordeons esquece as diferenças de gênio, as suscetibilidades e falhas. Sabem, quem canta investe em si mesmo, promove a alegria, promove a saúde própria, a saúde do espírito. Diz o ditado: “canto, flores e criança, feliz quem os alcança”. Ao ser efetivado no SESC, o médico me pergunta se eu já havia tido uma doença grave. Eu respondi que sim, otimismo e entusiasmo, e entusiasmo bem acentuado. Então, o médico disse: Nota dez. Aproveito a oportunidade de agradecer à Coordenadora Sônia Matos por todo apoio que nos dá nessas horas de lazer e, ao mesmo tempo, compromissos assumidos.

Vou finalizar, dizendo que os ilustres Vereadores, por frutos de seu coração bem-formado, conferem-me, hoje, um prêmio que me agrada muito, muito. Nunca faço uma apresentação do Coral do SESC sem executar uma música do Lupicínio. Vivemos o ano cultural Lupicínio Rodrigues que se estende até 16 de novembro de 1995. Lupicínio ficará para sempre o herói que representa o Sul na música romântica brasileira. Inscreveu-se no painel dos maiores músicos do Brasil. Tornou-se um ídolo de Porto Alegre, como Iberê Camargo, nas artes plásticas e Mário Quintana, na poesia. Prata de Casa. Diz o escritor Inglês “Quem está cansado de Londres, está cansado da vida.” Quem se cansará da vida em Porto Alegre, vida rica em tradição e belezas naturais? O poeta Luís Coronel dizia. Ah! Cidade dos meus amores. Ah! Porto Alegre, se estendendo à beira do Rio, e no outro lado, no meu coração. “Lupi” tinha uma verdadeira paixão por Porto Alegre, se alegrava quando podia distribuir gotas de felicidade e de bom humor e nunca gotas de ódio, que são como pimenta em pudim gostoso. Vejamos o canto “Jardim da Saudade”: “Ah! Que bom seria se Deus um dia de mim se lembrasse e lá para o céu o meu Rio Grande comigo o levasse, mostraria este meu paraíso para os anjos verem a verdade, que o Rio Grande do Sul é para mim o jardim da saudade.” Não posso deixar de dizer a letra para vocês sem cantarolar. Então, vou cantar para vocês esse pedacinho de “Jardim da Saudade.”

 

(Canta pequeno trecho de “Jardim da Saudade”)

 

Amigos, muito obrigado a todos. Queremos viver abraçados no mesmo ideal, no mesmo bem-querer e vamos crescer juntos com otimismo e bastante entusiasmo. Será, então, uma grande vitória do coração sobre o esquecimento, porque toda a lembrança é uma vitória do coração sobre o esquecimento; como diz o françês: “Une vitoire du coeur sur l’oublie”. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vivemos aqui momentos profundamente gratificantes, pedindo a Deus que no jardim da nossa saudade esses momentos fiquem plantados e frutifiquem para que possamos aproveitá-los integralmente. Agradecemos a presença de todos, encerro esta Sessão que foi belíssima.

 

(Encerra-se a Sessão às 15h22min.)

 

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